Enquanto isso, Julia Weis, porta-voz do aplicativo de mensagens suíço Threema, afirma que, embora o WhatsApp tenha abordado a empresa para discutir seus planos de interoperabilidade, o sistema proposto não atendia aos padrões de segurança e privacidade do Threema. “O WhatsApp especifica todos os protocolos, e não teríamos como saber o que realmente acontece com os dados do usuário transferidos para o WhatsApp, afinal, o WhatsApp é de código fechado”, diz Weis. (A política de privacidade do WhatsApp informa como utiliza os dados das pessoas.)
Quando a UE anunciou pela primeira vez que os aplicativos de mensagens poderiam ter que trabalhar juntos no início de 2022, muitos criptógrafos líderes se opuseram à ideia, dizendo que isso adiciona complexidade e potencialmente introduz mais riscos de segurança e privacidade. Carmela Troncoso, professora associada da Universidade Suíça École Polytechnique Fédérale de Lausanne, que se concentra em engenharia de segurança e privacidade, afirma que as medidas de interoperabilidade poderiam potencialmente levar a diferentes relações de poder entre as empresas, dependendo de como são implementadas.
“Essa movimentação pela interoperabilidade poderá, por um lado, abrir o mercado, mas também talvez fechar o mercado no sentido de que agora os grandes players terão mais poder decisório”, diz Troncoso. “Agora, se o grande player tomar uma decisão e você quiser continuar sendo interoperável com esse grande player, porque seus usuários estão conectados a ele, você terá que seguir.”
Embora a interoperabilidade de aplicativos de mensagens criptografadas seja possível, existem alguns desafios fundamentais em relação a como os sistemas funcionarão no mundo real. Até que as pessoas comecem a usar configurações interoperáveis, é largamente desconhecido o quanto o spam e os golpes serão um problema entre os aplicativos. Também existem questões sobre como as pessoas vão se encontrar entre diferentes aplicativos. Por exemplo, o WhatsApp usa seu número de telefone para interagir e enviar mensagens para outras pessoas, enquanto o Threema gera aleatoriamente IDs de oito dígitos para as contas das pessoas. A integração com o WhatsApp “poderia desanonimizar os usuários do Threema”, diz Weis, a porta-voz do Threema.
Brouwer, da Meta, diz que a empresa ainda está trabalhando nas funcionalidades de interoperabilidade e no nível de suporte que disponibilizará para empresas que desejam se integrar a ele. “Ninguém sabe exatamente como isso funciona”, diz Brouwer. “Não temos ideia de qual será a demanda.” No entanto, ele afirma que a decisão foi tomada para utilizar a arquitetura existente do WhatsApp para executar a interoperabilidade, pois isso significa que o sistema pode ser escalado mais facilmente para chats em grupo no futuro. Também reduz o potencial de exposição dos dados das pessoas a vários servidores, diz Brouwer.
Em última análise, a interoperabilidade evoluirá ao longo do tempo e, na perspectiva da Meta, Brouwer diz que será mais desafiador adicionar novos recursos rapidamente. “Não acreditamos que os chats interoperáveis e os chats do WhatsApp possam evoluir no mesmo ritmo”, diz ele, afirmando que é “mais difícil evoluir uma rede aberta” em comparação com uma fechada. “Assim que você faz algo diferente – do que sabemos que funciona muito bem -, você abre um buraco de minhoca de questões de segurança, privacidade e complexidade que sempre será muito maior do que você imagina.”
